PELAS ÁFRICAS OCIDENTAIS

O “pai" da ideia, Mário Frazão, é um daqueles portugueses apaixonado por tudo o que tenha a ver com o continente africano. Além de ter crescido em Angola, ainda antes do 25 de Abril ingressou na Força Aérea e, já nos anos oitenta, trabalhou em vários países de África Ocidental ao serviço da Organização Mundial de Saúde (OMS), no programa ONCHO. Há dois anos atrás, com 53, deu-lhe a pica e quis voltar a sentir, de moto, alguns dos muitos lugares por onde tinha por lá vivido, incluindo a Guiné-Bissau, a Guiné-Conakri, o Mali, o Burkina Fasso e o Senegal.


Quem alinha na aventura?

Um dia, durante uma aventura por Marrocos com Ricardo Maia de Loureiro, e já tanto um como o
outro com BMW 1150 GS Adventure, começaram a sonhar com uma ida à mítica cidade de Tombouctu, no Mali. Quando chegou a Portugal, Mário falou no assunto a Henrique Pratas, amigo de longa data e dois anos mais velho que ele e este aderiu, quase de imediato, ao projecto. Passado pouco tempo apareceu um quarto candidato, Eduardo Silva, um trintão quase nos quarenta e com uma vontade enorme de conhecer África. Mais tarde e já relativamente perto da data marcada para a partida, aparece um quinto elemento, o Paulo Gameiro, acabado de entrar nos 40. Mário e Ricardo já tinham as suas motos equipadas com uma série de alterações, incluindo um tanque de gasolina da Touratech com capacidade para 41 litros, protecção da óptica, suporte para GPS e intercomunicador entre outras. Dos outros mais ninguém tinha motos destas, mas uns por opção outros por "espírito de equipa", o certo é que todos se equiparam com motos da marca alemã. Henrique Pratas tinha uma Honda Deauville e trocou-a por uma BMW 1200 GS nova. Eduardo Silva tinha comprado uma Honda Pan-European havia pouco tempo mas, por causa da viagem, trocou-a também por uma BMW 1200 GS nova. E Paulo Gameiro, finalmente, trocou a sua Honda Varadero por uma BMW 1200 GS.


Como nasceu o Bissau-Lisboa

Mas as motos eram só um detalhe dos preparativos. Com a sua formação militar, Mário fez questão de preparar a viagem ao mais pequeno pormenor, ao ponto de sugerir aos seus colegas coisas como a compra individual de mapas de todas as regiões por onde estava previsto passarem; ou ainda a instalação de sistemas de intercomunicação para que todos pudessem falar entre si, sem esquecer a instalação de depósitos suplementares como os da sua GS Adventure. Também à boa maneira militar, cada um dos cinco ficou encarregado de uma missão específica. Mário, pela sua experiência, era o líder e seguiria sempre à frente. Henrique foi nomeado o navegador e seguiria atrás do Mário. Paulo Gameiro, o menos preparado do grupo, ficaria no meio. Em quarto lugar iria, o "caçula", o Ricardo, com funções de enfermeiro, e por último o Eduardo, com funções de tesoureiro e operador de câmara.
O plano inicial era partir de Lisboa, ir até Tombouctou no Mali e depois voltar para Portugal, mas as distâncias envolvidas e as dificuldades logísticas da travessia do deserto obrigaram a pensar numa alternativa. Surgiu então a ideia de se fazer Dakar-Tombuktou-Dakar, ou um Dakar-Lisboa, mas os fretes de transportar as motos de avião até Dakar e as burocracias também não ajudavam. Foi então que Mário "descobriu" que os fretes para Bissau, um pouco mais a sul que Dakar, eram muito mais baratos e a burocracia menos complexa. E assim nasceu este original e duro Bissau-Lisboa.

Haja burocracias e mais burocracias

Complicado, complicado foi arranjar os vistos para entrar em todos os países que constavam do itinerário da viagem, nomeadamente Guiné-Bissau (mesmo assim, o mais fácil), Guiné-Conakri, Mali, Burkina Fasso, e Mauritânia. "Havia sempre a possibilidade", diz Mário, "de tentarmos obter os vistos de entrada nos vários países só quando chegássemos aos mesmos mas, era um risco acrescido que preferimos não correr. Obter alguns destes vistos na Europa, porém, não foi pêra-doce. Só para conseguir o do Guiné-Conakri tive que ir a Paris três vezes".Levando em conta a altura do ano em que os cinco podiam ausentar-se de Portugal sem grandes contratempos e as peculiaridades climatéricas das regiões que iam atravessar - primeiro uma zona tipicamente tropical com muita chuva, temperaturas e níveis de humidade muito altos durante quase todo o ano e outra com temperaturas ainda mais altas no verão e inicio da estação dos ventos de Harmatan - a partida ficou marcada para o fim do verão, no final de Setembro. As motos seguiram de barco, com Mário, Henrique e Eduardo a apanharem o avião uns dias depois para estarem em Bissau ainda antes delas lá chegarem. Paulo e Ricardo, por motivos profissionais, só se juntariam a eles uns dias mais tarde, quando as motos já lá estivessem.
As motos foram todas preparadas ao mais pequeno detalhe, tendo quatro delas recebido depósitos suplementares, malas especiais, sistemas de comunicação, protecções especiais para ópticas e outras peças.
Duas, a de Henrique Pratas e a do Eduardo Silva, sofreram até um rebaixamento especial (feito em Bolhos, Peniche, na oficina de Fernando Chagas) para a sua altura ao chão não ser tão elevada. Ao nível dos pneus, enquanto quatro optaram pelos então novos Metzeler mistos, Ricardo optou pelos Continental TKC 80 que já conhecia e com os quais estava bastante contente. No final, a sua opção acabou por se revelar melhor pois os Metzeler, ainda a uns milhares de quilómetros de Portugal, já se queixavam.

A primeira etapa...















A chegada a Bissau correu sem problemas e depois de uns dias de ambientação, sobretudo à humidade, os cinco preparam-se para partir. Na véspera, as motos foram atestadas, todo o material e procedimentos combinados para a viagem foram verificados e na manhã seguinte, depois de umas horas bem dormidas no hotel "Uaque", pelas sete da manhã, as cinco motos fizeram-se à estrada em direcção a nordeste. A primeira etapa, de Bissau até Gabu (antiga Nova Lamego), fez-se sem problemas. O calor e a humidade eram muitos mas o piso era alcatrão bom. Daí até à fronteira com a Guiné Conakri, o asfalto já não era tão bom mas, também não houve problemas de maior. O calor e a humidade é que eram tantos que obrigaram a uma primeira alteração de fundo nas regras pré-estabelecidas antes da partida. Na altura tinha sido combinado que os cinco viajariam sempre com equipamento à séria, da cabeça aos pés, mas as condições revelaram-se de tal forma duras, que foi logo acordado que a utilização ou não de casacos ficaria por conta de cada um. Mais morto que vivo, o grupo chegou à pequena aldeia Koundará, uns 50 quilómetros já depois da fronteira e depois de uma noite marcada pela companhia de umas dezenas de "simpáticos" sapos nos quartos da casa particular onde ficaram, enquanto cá fora trovejava como se o mundo estivesse para acabar, seguiram no outro dia para a cidade de Labé, 200 quilómetros a sudeste de Koundará e o centro da província de Fouta Djalon, a chamada "Suíça" africana, uma região montanhosa com uma floresta tropical muito densa e onde muitos dos principais rios desta região de África têm as suas nascentes.



... e o primeiro susto

Esta segunda etapa. Porém, revelou-se bastante mais complicada que a primeira. Pouco tempo depois de arrancar para a estrada, o quinteto de BMs deparou-se com um senhor cão na beira da estrada que, depois de se aperceber do grupo, ficou a ver passar a primeira moto, a segunda. a terceira, e quando a quarta ia a passar, atirou-se para o meio da estrada! 0 cão, coitado, ficou estendido. Quanto à moto e ao piloto, o Ricardo, conseguiram aguentar o impacto, mas sofreram também, isto porque o bicho era grande e terá causado algum dano na direcção da moto. Na altura pensou-se que o caso tivesse ficado por aí mas um pouco mais à frente, o mesmo Ricardo despistou-se, a moto foi para um lado, ele para outro, quando a "poeira" assentou no chão tudo parecia estar bem, mas não. Nesse mesmo dia, à noite, quando chegaram a Labé, tornou-se claro que a moto estava com um problema sério. A direcção estava tudo menos solta e as bainhas da suspensão começaram a deixar sair óleo. Apesar do grupo ter distribuído entre si quase uma oficina móvel em ferramentas, óleos, peças de substituição e até um computador para análise de problemas a nível de electrónica, um problema destes parecia, à partida, complicado. Porém, um telefonema para Fernando Chagas em Portugal, deixou-os mais descansados. Segundo o próprio, não se podendo fazer nenhuma reparação de fundo, bastava aliviar um pouco os quatro parafusos da suspensão e a moto não devia dar mais problemas até ao fim da viagem.

Pela Guiné Conakri

No dia seguinte, depois de logo de manhã terem sido quase obrigados a assistir a um comício sobre os direitos da mulher que começava exactamente no hotel onde estavam, os cinco fizeram-se novamente à estrada, com o objectivo de chegarem nesse dia a Dabolá, uns 300 quilómetros mais para sudeste. Esta etapa correu sem sobressaltos e chegado à cidade, o grupo ficou hospedado no simpático hotel Tinkisso que, apesar de não ser nada do outro mundo, tinha uma qualidade bastante aceitável para esta região de África. Ainda nesta cidade, tornou-se necessário trocar dinheiro e quem acabou por ajudar o grupo foi um polícia que, "à pendura" na moto do Mário, conduziu os cinco até uma bancada do mercado considerada o centro da "candonga" local.
O terceiro dia de Guiné Conakri levou o grupo até à segunda cidade do país. Kankan, 300 quilómetros mais para sudeste e já relativamente próximo da fronteira com o Mali, o país seguinte da viagem. As estradas eram relativamente boas embora à saída de cada curva havia que não esquecer que poderia lá estar algum buraco capaz de fazer voar a moto e o piloto. Já em Kankan, onde as BMs chegaram relativamente cedo, visitou-se o centro local da ONCHO onde Mário tinha tido a sua base operacional e onde ainda conhecia muita gente que lá trabalhava.

"Le detour"

Daqui para a frente, a ideia inicial era seguir directamente para leste, de Kankan para Sikasso, a principal cidade do sul do Mali e um centro militar importante. As chuvas torrenciais que tinham caído nos dias anteriores, porém, tornavam a viagem particularmente arriscada devido aos riscos de atascamentos e estradas intransitáveis, para além de que, devido à correnteza dos rios, não havia garantias que as canoas cobertas de tábuas que são aqui utilizadas para a travessia de veículos automóveis e outros estivessem totalmente operacionais. Assim, o grupo optou por seguir para nordeste para Bamako, depois descer até Bougoni, e daí seguir a rota inicial para Sikasso. Eram mais 550 quilómetros mas a paisagem também era bonita, uma boa parte dela seria feita a acompanhar o Níger e era claramente mais seguro.
Ainda os primeiros raios de Sol não tinham aparecido no horizonte e o grupo já estava a arrancar. Até à fronteira, apesar dos buracos, do calor e da humidade, o caminho fez-se bem, ou relativamente bem. A passagem da fronteira para o Mali fez-se em Kourémalé e, tal como em todas as fronteiras, os guardas alfandegários lá estavam para complicar a vida. Não obstante isto, no meio dos vários trâmites, um dos agentes ainda queria que cada um dos cinco pagasse uma “taxa especial" de 2000 francos CFA (cerca de 20€) para entrar no país o que parecia ser uma pequena artimanha para ganhar algum dinheiro extra. Quando porém, Mário mencionou que chegando a Bamako iam visitar um amigo dele que era gente importante no Mali, príncipe da etnia Dogon, o Sr. Pangalet Poudiougo (de quem o Mário é mesmo amigo pessoal), o pobre do polícia, que era da mesma etnia, não só mudou de tom como passou a tratar o grupo dos "portugais" cheio de deferência e já não queria, de maneira nenhuma, o dinheiro.
Chegados a Bamako, uma metrópole com quase dois milhões de habitantes e um trânsito infernal, o primeiro problema do grupo foi descobrir o Hotel de l'Amitié, onde Mário já lá tinha estado nos seus tempos de OMS. Desde então, porém, a cidade cresceu desalmadamente mas, entre vias rápidas, boulevards, avenidas e ruas, táxis, carros, mobilettes e carroças de burros, lá conseguiram chegar. Descarregadas as motos, foram recarregar "baterias" para a beira da piscina do dito hotel.
No dia seguinte, arrancaram para Sikasso, pensando que só voltariam à capital do Mali passadas quase duas semanas, depois de uma grande volta no Burkina Faso e no País Dogon, no nordeste do Mali. Ao fim de 70 quilómetros de viagem, porém, Paulo Gameiro sentiu-se mal do estômago. Inicialmente pensou-se que fosse algo passageiro mas o problema persistiu e o grupo acabou voltando para Bamako. Foi então decidido que Paulo ficaria aqui uns dias a descansar, o grupo iria retomar o seu périplo na região mas, encurtá-lo-ia para uma semana e na volta para Bamakol, os cinco seguiriam novamente juntos para o Senegal e depois para norte, para a Mauritânia e Marrocos. Mesmo antes do sucedido, a volta "grande" das duas semanas já estava em dúvida devido a problemas políticos no Burkina Fasso e também por causa do estado caótico em que se encontravam algumas estradas no norte do Burkina Fasso mas com os problemas do Paulo, a decisão de não se seguir com este trajecto inicial acabou por ser tomada sem hesitações.

O Burkina e o país Dogon

Os quatro lá seguiram novamente para Sikasso, daí para Bobo-Dioulasso no Burkina,
subindo directamente para o País Dogon, o qual, situado nos 15 graus de latitude norte entre entre os 004 e 003 graus de longitude oeste, era o ponto mais a leste da viagem. Apesar das estradas não serem das melhores e dos calores mais as humidades, as paisagens eram de sonho, as gentes do mais simpático que há e as máquinas não davam quaisquer sinais de problemas mas, quando já se encontravam a voltar para Bamako aconteceu a situação mais delicada da viagem. Uns 20 quilómetros depois de passarem um normalíssimo posto de controlo da polícia, Henrique dá indicações pelo sistema de comunicação que está a sentir-se mal. Os quatro param na beira da estrada, ele sai da moto com dificuldades e é obrigado a deitar-se no chão, sobre um colchão improvisado, tal não é o seu estado de fraqueza. Adormece e embora não se perceba o que tem - mais tarde vem-se a detectar que é um ataque de paludismo - percebe-se que a situação é má. Após uma rápida troca de palavras entre Mário, Eduardo e Ricardo, é decidido um deles voltar atrás à última aldeia por onde tinham passado para tentar alugar uma carrinha que pudesse levar Henrique para Bamako o mais depressa possível. A moto dele é deixada no posto policial por onde tinham passado, Henrique segue numa carrinha, uma Toyota Hiace e eles os três de moto, lá vão todos pela estrada fora no que Mário considera a etapa mais perigosa da viagem.
"Eram 200 quilómetros", diz ele, "a estrada era estreita, tinha bermas que não eram bem bermas, já era noite escura, e o motorista da carrinha queria mostrar "serviço". Entre carros, camiões, alguns que não se desviavam nem por nada do seu caminho, mobilettes, bicicletas, gente e cabras, havia um pouco de tudo. E a gente não queria “perder” a carrinha nem por nada".
Chegados ao Hotel L’Amitié pedem o médico de serviço do hotel e este é rápido no diagnóstico - paludismo agudo. Henrique tinha que levar logo uma injecção cavalar de quinino para atacar o paludismo e outra para baixar a febre. Ministradas as injecções, vão todos dormir e no dia seguinte, enquanto Mário fica junto de Henrique para o que desse e viesse, os outros dois voltam a Segou para buscar a moto do Henrique. De volta para Bamako, vão tratar do seu despacho para Portugal por avião mas quando chegam ao aeroporto deparam-se com mais uma surpresa: num canto do armazém de carga aérea já lá estava uma outra BM para ser despachada para Portugal. Era a moto do Paulo, que não tendo conseguido recompor-se inteiramente do seu estado de fraqueza, optou por voltar de avião para Lisboa e mandar a moto pela mesma via!

A normalidade, 11 mil quilómetros depois

Dois dias depois, Henrique estava a voltar à normalidade. Tratou-se da sua passagem de Bamako para Dakar e dali para Lisboa e houve que voltar a pensar no resto da viagem, a começar pela ligação de Bamako ao Senegal. O caminho mais curto, por Kita, eram só 300 quilómetros mas a estrada era tão má, que foi recomendado ao grupo fazer outro caminho, mais pelo norte, numa distância de 700 quilómetros, cerca de 100 com estrada em muito mau estado, e sem qualquer posto de combustível operacional no trajecto. A fronteira entre o Mali e o Senegal, em Diboli, fez-se bem, mas o mesmo não se pode dizer dos mais de 600 quilómetros daí até Dakar. Da fronteira até Tanbacounda, a meio do caminho, o piso ainda era bom mas daí para a frente os buracos eram tantos que a maior parte do caminho foi feito pelas bermas, em baixa velocidade, e com o máximo dos cuidados. Devido a isto, a ideia de se ir dormir a um bom hotel em Dakar teve que ser abandonada, tendo-se ficado antes em Kaolack, uns 200 quilómetros antes de Dakar. Embora sem a beleza de Dakar, a cidade era também muito próximo da costa, o hotel bastante simpático e as amenidades locais também, pelo que no dia seguinte o trio resolveu ficar aqui a descansar. Posto isto, optou-se por não se ir a Dakar e em vez disso seguir para noroeste, para Thies (muito próximo de Dakar), e depois Saint Louis, a capital do norte do país, a qual o grupo ainda visitou antes do anoitecer.
Daqui segui-se para a fronteira do Senegal com a Mauritânia, a qual é, no mínimo, das fronteiras mais originais do mundo. Enquanto do lado do Senegal ela é normalíssima e acede-se à mesma por um batelão que tanto pode ser apanhado em cinco minutos como pode obrigar a uma espera de uma ou duas horas consoante a "bicha" de pessoas, vacas ou camelos, do lado da Mauritânia é um autêntico complexo militar com paredes altas, cancelas, guardas armados e tudo o resto. Aqui os três apanharam uma "seca" de quatro horas e como se isso não chegasse, quando tudo parecia estar tratado, os guardas fronteiriços fecharam as portas do complexo, com as motos lá dentro, alegando que era hora de almoço. Só as reclamações veementes do "despachante" que tinham arranjado para os ajudar é que permitiu que as portas fossem abertas outra vez para os deixar sair sem mais demoras, e sem terem que pagar mais nada.
Chegados à Mauritânia foi sempre a rolar, com os quarenta e muitos graus de temperatura do costume mas já com zero por cento de humidade, após uma dormida e estada de um dia em Nouakchott, onde o acontecimento mais importante foi a "aventura" que os três viveram quando quiseram beber uma cerveja (ver artigo em "curiosidades"). A única surpresa até chegar a Ceuta, onde apanharam o barco de volta à Europa, foi na fronteira da Mauritânia com Marrocos, um pastor-alemão da polícia, ainda mal treinado, "detectou" um cheiro estranho numa das motos e os três tiveram que se encostar a uma parede com as mãos no ar. Como nada de anormal foi descoberto na moto, veio um outro cão, mais treinado, que já não cheirou nada de especial desbloqueando assim a situação.
No final dos finais, foram quase 12.000 quilómetros de muita aventura, o susto do Henrique e uma riqueza de experiências que muitos de nós também, certamente, gostaríamos de viver. Mas para Mário e o resto do grupo, as suas aventuras não devem ficar por aqui. Para 2010 está já a ser "cozinhada" uma outra viagem por terras africanas, desta feita ligando Luanda a Maputo e com passagem por alguns dos lugares onde Mário e Henrique andaram quando viveram na região. Ora pois!

Curiosidades

Evian ou Vittel? Evian ou Vittel?

Uma ideia que atormenta muita gente que pensa fazer uma viagem de moto em África é a falta de água potável. Pois segundo Mário e os outros quatro aventureiros que foram com ele até Burkina Faso, isso hoje em dia já não é problema nenhum. "Em quase todo o lado", diz ele, "há gente a vender garrafas de água mineral francesa, como se estivessemos na Europa. Os locais de venda podem não ser tão sofisticados como os nossos, mas a água é a mesma. Ao longo de 12.000 quilómetros, só no deserto é que não vimos garrafas destas à venda".


Um café e uma baguete por seis euros

Em África é quase tudo barato mas tal não impede que tenhamos que estar sempre alerta para um ou outro exagero de preços. E mesmo para gente experimentada em terras de África como Mário e alguns dos seus colegas de viagem, houve pelo menos duas ocasiões em que foram apanhados desprevenidos. Uma delas foi numa banca, no meio da estrada, na Guiné Conakri. Tinha bom aspecto, pararam, pediram para cada um, um café e uma baguete com queijo, e quando veio a hora de pagar iam caindo para o chão: 30 euros ou seja, seis euros por cabeça. O outro descuido teve lugar na Mauritânia. Tinham acabado de chegar a Nouakchott, a capital e estavam desejosos de beber uma cerveja. Sendo a Mauritânia país muçulmano, não é fácil encontrar este precioso bem à venda, mas lá descobriram um bar e regalaram-se a beber não uma nem duas mas umas quinze, de 20cl.
Quando veio a conta, descobriram que cada uma custava o equivalente a cinco euros!


Telefone-satélite em casa...

Para precaver eventuais problemas de comunicação, o grupo levou para África um potente telefone-satélite mas, no fim da viagem, ele acabou por se revelar muito pouco prático. Não só porque só funcionava muito de vez em quando e porque as chamadas feitas com o mesmo acabaram por se revelar bastante caras, como também porque em quase todos os países por onde passaram os "tugas" descobriram que podiam comprar cartões de telemóveis locais e usá-los nos seus telemóveis como se estivessem em Portugal.
Muito mais eficaz e barato.

Mapa do Precurso

A viagem foi de 29 de Setembro de 2007 embarque em Lisboa no avião, com chegada a Lisboa de moto em 4 de Novembro de 2007.